Padre Gamer: A revolução da evangelização conectada pelos games


São Paulo – O Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP) apresenta uma entrevista exclusiva com o Pe. Edson Ribeiro, pároco em Ubá, na Zona da Mata/MG, que recentemente concluiu o primeiro módulo do curso de Pós-Graduação em Comunicação, Teologia e Cultura em parceria com o SEPAC. Além de exercer sua vocação sacerdotal, Padre Edson é um entusiasta dos videogames, produzindo conteúdos nas redes sociais sobre diversos jogos. Nesta entrevista, ele compartilha suas experiências e perspectivas sobre a integração entre sua paixão por games, a comunicação e a teologia.
Padre Edson Ribeiro utiliza de maneira inovadora os games como uma poderosa ferramenta de interação com os jovens conectados, estabelecendo uma ponte única entre a linguagem lúdica dos videogames e a mensagem evangelizadora. Compreendendo que os jogos são uma expressão cultural intrínseca à juventude contemporânea, o pároco não apenas compartilha sua paixão por games, mas transforma essa afinidade em uma abordagem inclusiva para comunicar os valores cristãos. Ao jogar e dialogar em um ambiente igualitário, Padre Edson conquista a confiança dos participantes, criando um espaço propício para discutir questões mais profundas da fé. Sua abordagem, marcada pela paciência e dedicação, destaca-se como um exemplo inspirador de como a evangelização pode se adaptar de maneira relevante aos interesses e modos de comunicação da juventude digital.
ITESP: Padre Edson, como gamer e comunicador, como você enxerga a integração entre a paixão por games, a comunicação e a teologia? Qual sua expectativa ao ingressar no curso de pós-graduação em Comunicação, Teologia e Cultura no ITESP em parceria com o SEPAC?
Pe. Edson: Vejo a integração entre esses 3 ambientes tão distintos como um caminho possível para um novo campo de diálogo com a juventude. Os jogos são produções culturais, usam da linguagem lúdica para não só entreter, mas também transmitir uma mensagem. Se pensarmos um pouco a Teologia também faz um processo semelhante, ao se servir da experiencia humana cotidiana e assim transmitir a mensagem da revelação cristã. Foi justamente a busca para entender melhor esse campo de evangelização que me fez ingressar no curso de pós-graduação em Comunicação, Teologia e Cultura do SEPAC e ITESP. Discutir a comunicação sob o olhar da cultura (no caso dos games) e da teologia está sendo uma experiencia muito gratificante e frutuosa.
ITESP: Sabemos que você utiliza seu amor por games como uma forma de evangelização e aproximação com o público jovem. Como essa abordagem tem impactado positivamente na relação da Igreja com os jovens?
Pe. Edson: Essa abordagem gera impacto a medida em que ela se utiliza de uma nova linguagem para comunicar o Evangelho. O uso dos jogos na evangelização nada mais é do que falar a mesma língua que os jovens. Afinal, se eles estão inseridos nesse ambiente, e usam dessa linguagem de maneira cotidiana, por que não fazer o mesmo? O jovem se surpreende a ver a figura de um presbítero não só jogando com ele, mas também dialogando não de um lugar superior, mas igualitário. Assim ele se sente acolhido e aos poucos se abre para falar de suas dores e alegrias. Ai se da a evangelização, após conquistar a confiança daquele jovem. Mas claro, esse é um trabalho que requer paciência e dedicação. Não é uma fórmula mágica onde basta jogar que eles irão se identificar. É preciso paciência e abertura para acolher esses jovens que estão no ambiente digital e possuem anseios pela vida plena.
ITESP: Padre Edson, como surgiu a ideia de unir sua vocação sacerdotal com o hobby de jogar videogame. Como essa combinação inusitada tem se manifestado em suas atividades pastorais e de comunicação?
Pe. Edson: A proposta nasceu de uma forma muito inusitada. Eu sempre tive gosto pelos games, afinal cresci nos anos 90 quando eles se popularizaram. Mas a combinação entre jogos e evangelização acabou se tornando um projeto a partir de uma experiência com a juventude de um colégio católico presente em minha Diocese. Na época acompanhava a juventude desse colégio e foi me pedido para falar sobre vocação para cerca de 300 jovens numa tarde de agosto. Ao perceber que os jovens não estavam interessados no assunto comecei a usar exemplos de jogos populares com eles, e rapidamente se identificaram. Ali percebi que era possível unir esses dois mundos tão distintos aos olhos dos outros em prol de um bem maior. Desde então venho me dedicando a esse tipo de trabalho em lives e interações pelas redes sociais.
ITESP: Dada sua paixão por games desde a infância, como as experiências com videogames na década de 90 influenciaram sua perspectiva atual sobre comunicação e cultura? De que maneira essas vivências moldaram seu olhar teológico diante dos desafios contemporâneos?
Pe. Edson: Elas influenciaram na forma de ver o mundo, principalmente no quesito comunidade. O mundo dos games é bastante comunitário no sentido de trocas de experiencias, união de grupos com gostos semelhantes. Ter crescido nesse ambiente me ajudou muito a entender o quão importante é a vida de comunidade, onde todos se unem em prol de um objetivo maior. Claro, no meio dos jogos o objetivo é apenas vencer uma partida enquanto na comunidade real nosso objetivo é alcançar um ideal de vida plena. Mas em ambos a vivência comunitária é fundamental, pois você pode até conseguir vencer sozinho, mas em comunidade o caminho se torna não só mais fácil como mais agradável e frutuoso.
ITESP: Considerando a crescente relevância dos games na cultura contemporânea, qual é, na sua visão, o papel dos videogames na educação e evangelização, especialmente no contexto atual? Como isso se alinha ou desafia os princípios teológicos que orientam sua missão sacerdotal?
Pe. Edson: Os games são parte integral do campo do entretenimento atualmente. E eles não irão sumir. Houve um tempo em que se viam os jogos como algo mais ligado ao campo do vício, até mesmo gerando a sua condenação por parte de alguns. Hoje não é possível mais ter tal tipo de visão. O que se deve fazer é entender que eles são parte da cultura de uma sociedade. Estão inseridos em nosso meio, eles contam histórias, transmitem conhecimento e valores mesmo que de uma forma lúdico interativa. Vejo que mais do que um mero brinquedo eles podem servir, e muito, para a formação do ser humano. Assim como a TV e o Cinema formam as pessoas, os games também podem fazê-lo. Claro, é preciso ter discernimento sobre o tipo de conteúdo que é consumido e também saber separar o real do virtual. Mas com o devido processo de discernimento os games podem sim ser uma grande forma de se chegar à juventude e apresentar-lhes valores que estão presentes nessas formas de manifestações culturais.
O Instituto se orgulha de contar com alunos tão dedicados e engajados como o Pe. Edson Ribeiro, que demonstra de maneira única como a teologia pode transcender os limites tradicionais e se inserir em diversos contextos culturais, incluindo o mundo dos games e da comunicação contemporânea. A participação ativa de Padre Edson no curso de pós-graduação Comunicação, Teologia e Cultura em parceria com o SEPAC é um exemplo inspirador para todos os alunos do ITESP, mostrando que a evangelização pode florescer em diversas formas, enriquecendo não apenas a formação teológica, mas também a compreensão e aplicação prática dos ensinamentos cristãos em nossa sociedade em constante transformação.
Por: Arison Lopes, Comunicação Institucional ITESP
Imagem: Reprodução | Instagram (@peedsonribeiro)
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