O pontificado de Francisco: transformações na Igreja e impacto social

O ministério pontifício de Francisco caminha para seus 12 anos (o início se deu em 19 de março de 2013). Atualmente o estado de saúde do Papa é delicado e ele se encontra hospitalizado e demandando sérios cuidados médicos. É inegável uma crescente inquietação mundial acerca do estado das coisas, assim também como os fiéis intensificam suas orações pela recuperação de sua saúde. O texto aqui proposto, todavia, não está em função do atual estado de saúde do Papa Francisco, mas, em vista de um olhar histórico das conquistas que seu ministério trouxe para o mundo presente. Portanto, não é uma análise mórbida de um legado, mas, um simples olhar histórico de alguns pontos de seu pontificado.
A eleição de Francisco como sucessor de Pedro, por si só já apresenta uma grande novidade histórica para o Papado, isto é, pela primeira vez um latino-americano ocupa tal posto eclesial. Entretanto, não se trata de simples questão de nacionalidade, mas, somado a este fato sua formação jesuítica e seu exercício ministerial como padre-bispo-cardeal na explorada e sofrida Argentina, temos de fato, uma nova abordagem eclesiológica, oferecida por Francisco a partir de sua rica experiência emanada do Sul global. É desta experiência prévia e consistente que Francisco teve condições de enfrentar alguns desafios hercúleos tanto dentro da Cúria romana como na Igreja mundo afora.
As transformações na Igreja derivadas de seu pontificado estão na linha da organização institucional, por exemplo, com a nomeação de bispos que compartilhem da cultura de suas futuras dioceses e a inclusão sempre mais crescente de mulheres e leigos para os cargos eclesiais, num claro chamado à luta contra o patente clericalismo institucional; e também para o cuidado pastoral dos fiéis, sobretudo os mais sofredores. Nesta segunda linha de transformações, chama-nos bastante a atenção seu cuidado paternal para com os casais em segunda união, muitos dos quais tiveram a vida salva com a agilização e divulgação da realidade dos tribunais eclesiásticos. Também os católicos que vivem os dramas da questão homoafetiva de forma séria, foram convidados a se voltarem para a Igreja, pois esta, renovada pelo carisma e espírito de acolhidas de Francisco, não é sacramento de danação no mundo, mas de salvação.
Todavia, em se tratando de mundo, foi fora da Igreja que as ações do Papa Francisco mais se fizeram sentir e geraram maior repercussão midiática. Dentro das muitas iniciativas sociais de Francisco, elenco apenas duas para este texto. A primeira que gerou comoção e impacto social foi sua forma de lidar com a questão da imigração, ainda nos primeiros anos de seu pontificado. Partindo principalmente de países do norte da África com destino à Europa, muitas pessoas se colocavam em risco na travessia do Mediterrâneo e, ao chegar sobretudo no sul da Itália, não eram bem quistas ou acolhidas de forma adequada. Ao longo dos anos a voz de Francisco foi determinante para que as políticas anti-imigratórias da União Europeia não fechassem as portas para estas pessoas desesperadas que buscavam vida em melhores condições. A segunda ação dia respeito à economia. O sucesso do capitalismo no século XXI cobra grande preço ao planeta e aos pobres. Assim, Francisco se inspirou em algo muito caro e comum aos estudiosos da Idade Média: a economia moral. Sua proposta, iluminada pela forma de gerência medieval é uma alternativa viável para os tempos presentes, não se tratando de uma simples volta àquilo que foi. Com a Fundação Economia de Francisco, criada em 23 de setembro de 2024, o Papa reuniu um engajado grupo de jovens economistas com a função de pensarem e proporem para o mundo de hoje uma economia humana, inclusiva e sustentável, que abra caminhos para iniciativas concretas de promoção do bem comum e da ecologia integral.
Por: Prof. Bruno Coelho
Imagem: Reprodução/Internet