“Ainda estou aqui”, um drama carregado de afeto

Sucesso de bilheteira, com mais de 5 milhões de espectadores e indicado ao Oscar de Melhor Filme, Ainda estou aqui é uma adaptação do livro homônimo e das memórias de Marcelo Rubens Paiva. A obra narra a trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, durante a Ditadura Militar no Brasil. Rubens Paiva, deputado federal cassado pelo regime militar em 1964, exila-se por 9 meses e, ao voltar, reside no Rio de Janeiro com Eunice e seus cinco filhos. A família vive à beira da praia, em uma casa de portas abertas para os amigos.
Ambientada em 1970, a história retrata a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, cuja rotina muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, sequestrado pelo regime militar. Forçada a abandonar sua vida de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão. A produção do filme contou também com inúmeras entrevistas com a família de Eunice para a reconstituição de detalhes.
Marcelo Rubens Paiva, autor de Feliz Ano Velho, fez Rádio e TV na Escola de Comunicações e Artes da USP e, a seu pedido, o filme não apresenta cenas explícitas de tortura, mas o ambiente transmite muito bem essa realidade. O roteiro é muito bem elaborado, com a música dialogando de forma intensa com o filme. Walter Salles consegue mostrar a convivência familiar prazerosa, com pais amorosos, sempre registrando os bons momentos, o que confere ao filme um caráter histórico e de memória. Mesmo na ausência do pai, observa-se que a dor da família é amenizada pelo amor entre eles. A comunicação está presente nos diálogos e relacionamentos, com amigos jornalistas e o esforço para tornar público o fato.
É muito evidente a superação de Eunice, que, diante do desaparecimento do marido, precisa repensar e replanejar a vida da família em todos os sentidos. Um fato chocante é o atropelamento de um cachorrinho de estimação, que a família sepulta no quintal de sua casa, enquanto não pode sepultar o pai.
A certidão de óbito do engenheiro civil e ex-deputado federal Rubens Paiva, que desapareceu em 20 de janeiro de 1971 durante a ditadura militar, foi alterada em 23 de janeiro de 2025. No documento, agora consta que a causa da morte do político foi ‘não natural’, violenta, causada pelo estado brasileiro. A alteração ocorreu devido a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), publicada em dezembro de 2024.
Por: Prof.a Helena Corazza.
Imagem: Reprodução/Divulgação
Gênero: Drama/Drama histórico | Direção: Walter Salles | Roteiro: Murilo Hause e Heitor Lorega | País de produção: Brasil/França – 2024