Chamas que não se apagam: a nova geração comprometida com a Libertação

Entre os dias 29 de maio e 01 de junho, realizou-se em Belo Horizonte, o Encontro Nacional das Novas Gerações da Teologia da Libertação — um tempo privilegiado de reflexão teológica, convivência fraterna e olhar crítico para a realidade sociopolítica e eclesial que nos interpela profundamente. O encontro, marcado por um espírito de esperança e resistência, reuniu representantes de todos os cantos do Brasil e de países da América Latina, reafirmando a força viva da tradição teológica libertadora em nosso continente.
Ao longo desses dias, tivemos a oportunidade de partilhar temas que atravessam o coração da prática teológica latino-americana: a memória fecunda da tradição da Teologia da Libertação, os desafios teológicos contemporâneos diante de um mundo em crise, e as novas perspectivas para um agir pastoral e acadêmico enraizado no compromisso com os pobres, marginalizados e esquecidos deste sistema que mata e exclui.
O caráter ecumênico do encontro — com a presença de lideranças católicas, protestantes e outras expressões religiosas — tornou-se um sinal claro de que a Teologia da Libertação não pode mais ser pensada a partir de fronteiras confessionais. Trata-se de uma teologia plural, aberta ao diálogo e profundamente inserida na realidade concreta dos povos. A diversidade de vozes e experiências não dilui a proposta libertadora; ao contrário, a aprofunda e a desafia a novos caminhos de encarnação e profecia.
O encontro também foi uma oportunidade de olhar com gratidão e responsabilidade para a rica história da tradição teológica latino-americana — uma história marcada por mártires, comunidades de base, militância social e resistência profética frente às diversas formas de opressão. Ao mesmo tempo, reconhecemos que os desafios atuais exigem criatividade teológica, coragem ética e articulação prática. Vivemos tempos de retrocessos democráticos, violência estrutural, crise ecológica e exclusão crescente. Diante disso, reafirmamos: a teologia só será fiel ao Evangelho se for uma teologia em saída, a partir dos pobres, para a transformação da realidade.
Como fruto concreto do encontro, germinou a proposta de criação de uma Rede nacional e latino-americana de articulação teológica libertadora. Esta Rede buscará integrar iniciativas acadêmicas, experiências pastorais e militâncias populares comprometidas com a justiça, a paz e a dignidade de todas as pessoas. Acreditamos que essa articulação será instrumento importante para sustentar e animar o fazer teológico das novas gerações, mantendo viva a memória profética de nossos antecessores e abrindo horizontes para um futuro de libertação.
O Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), esteve representado pela aluna do 2º ano de Teologia, Antonia Beatriz, que aceitou o convite para compor a equipe de articulação da Rede, e pelo egresso Jefferson Lucas Severino, que atualmente dedica-se à formação de novos religiosos na Congregação Redentorista, etapa do propedêutico.
Seguimos em comunhão com os clamores dos povos, escutando a realidade com atenção, e fazendo da teologia uma prática de discernimento e transformação. Que o Espírito continue soprando onde quer, levantando mulheres e homens capazes de pensar e viver a fé como compromisso radical com os últimos, os pequenos e os crucificados da história.
Porque, como nos lembra a tradição que herdamos, a fé que não se faz justiça, é uma fé negada em sua própria raiz.
Por: Jefferson Lucas, ex-aluno do ITESP.
Foto: Arquivo Jefferson Lucas