Você já percebeu que ao entrar por uma Igreja, ou outro espaço religioso-cristão, logo somos tomados por um sentimento de acolhida e paz? Esses sentimentos, embora implícitos, fazem parte de um estudo minuciosamente pensado e pesquisado para que os que adentram esses espaços possam estar num ambiente que transmita respeito, um sentido de comunidade e intimidade com o espiritual, a fé e o sagrado.
Para quem percebeu, esses espaços religiosos estão repletos de símbolos, arte e história, e, além desses três primeiros fatos podemos analisar que eles também estão inseridos dentro de um contexto político, econômico, histórico e geográfico. Se traçarmos uma linha do tempo da História da Igreja no Brasil perceberemos uma influência externa (Europa Ocidental) nas construções dos prédios liturgicamente erigidos, mas que devido a questões geográficas e climáticas foram se adaptando à realidade da região e sofreram uma certa influência das famílias que frequentavam esses espaços.
Hoje conseguimos datar uma Igreja a partir do seu estilo arquitetônico. Conceitos como rococó, clássico, gótico, moderno e tantos outros traçam uma linha artística para os estudiosos e curiosos, mas entender essas ramificações e conceitos são realmente importantes? Para o professor especialista em arte sacra, Almir José Neto (@almirjoseneto), há uma necessidade de se inteirar da arquitetura para que possamos entender e apropriar da liturgia do espaço. Cada objeto é meticulosamente pensado para que possa promover um despertar mistagógico, ou seja, iniciar e/ou instruir nas coisas misteriosas da religião.
O Instituto São Paulo de Estudos Superiores entrevistou o Prof. Esp. Almir José Neto e três alunos do curso de extensão em Arquitetura Sacra para entender qual a importância da formação de profissionais nessa área da liturgia e quais são as motivações para iniciar e concluir o curso promovido pelo ITESP. Seguem abaixo as considerações do professor:
ITESP: Quais são os desafios enfrentados hoje pelo profissional de arquitetura sacra?
Almir: Sem dúvidas eles são muitos, mas entre eles a falta de profissionais capacitados pode ser citada, embora também possa ser encarado como benefício comercial (oferta e demanda). A falta de agentes e “aventureiros” na área é um desafio no que tange a valorização e reconhecimento dos profissionais que se dedicam e se aprofundam na arquitetura sacra. Em muitos lugares encontramos igrejas que se tornaram um problema comunitário, porque as lideranças não se preocuparam em projetar e executar uma obra pensada com profundidade mistagógica. Quase sempre elas não vão além do gosto pessoal embasado num conhecimento superficial, ou mesmo seguem a um “modismo da época” sem se recordar de que o espaço litúrgico é verdadeiramente sinal visível do corpo místico de Cristo. Em nome de uma infundada economia ou usando de um luxo sem parâmetros, vemos coisas muito complicadas pelo caminho. É grande e são muitos os desafios, mas sem dúvidas é um caminho de muita alegria e retribuição.
I: Quais são os caminhos que esse profissional poderá trilhar dentro do espaço sagrado/litúrgico?
A: Como os desafios, os caminhos são muitos e todos viáveis desde que trilhados Naquele que é o único caminho seguro: Cristo! Trabalhando por amor a Ele; planejando cada passo contando com Ele e dando cada passo com os olhos fixos Nele! Na certeza de que estamos inseridos em seu corpo místico ao ser Igreja. E aí tudo vem por acréscimo: se vamos trabalhar planejando ou acompanhando obras; idealizando ou elaborando os projetos; fazendo o projeto do todo ou suas minúcias; pensando a forma, a estrutura, as instalações ou os acabamentos; as possibilidades de caminho a ser trilhado são muitas e todas válidas. E todas possíveis! Contudo, sempre por Cristo, com Cristo e em Cristo!
I: O que impacta essa formação para o profissional de arquitetura ou para os demais interessados na área?
A: Com essa formação nós podemos ter a tranquilidade de mergulhar em águas mais profundas; ter saído da margem ou daquilo que se compreende olhando só da superfície; e com isso a segurança de pensar espaços coerentes à realidade, necessidade e especificidades de cada comunidade. Aprendemos com a formação a entender o que é a “cara da igreja”, sobretudo entender que a igreja (templo) reflete a Igreja (comunidade). E podemos assegurar isso tendo aprendido ao olhar para toda nossa história, compreendido o que buscamos pro presente, no objetivo de trabalhar para um futuro em que a honra e glória ao nome do Senhor sejam dadas a cada momento também no testemunho que fora edificar Sua morada que só pode ser chamada assim por ser casa de irmãos.
I: Como esses espaço sacro/litúrgico influencia na experiência do fiel e como a arquitetura pode contribuir nesse sentido?
A: O espaço litúrgico influência na nossa experiência de fé da mesma forma que a infraestrutura de uma cidade impacta na nossa vida cotidiana; a arquitetura de hospital impacta na qualidade do socorro e atendimento que ali se presta; a disposição, formas, cores da nossa casa favorece ou atrapalha o nosso dia a dia… o Espaço Litúrgico não só é um sinal que se observa, como que uma figura distante e tão somente admirável, o Espaço Litúrgico é símbolo, vivido e experimentado em toda nossa ação ritual, é o lugar onde celebramos!
I: Há uma procura cada vez maior por esse profissional nos espaços sagrados? Como identificar um bom profissional para um projeto?
A: Padres, diáconos, líderes e agentes de comunidade têm cada vez se atentado a isso, apesar de ainda termos muito caminho a percorrer. Contudo, dentre os muitos desafios há um bastante preocupante que é aqueles que estão pensando e executando o projeto sem muita perícia e conhecimento no que está sendo feito. Isso é um problema seríssimo! Como desfazer algo mal-feito sendo que aquilo foi sonhado por tanto tempo, conquistado com tanto trabalho duro, e, agora que se realizou, tá mal feito… é no mínimo uma grande frustração. É preciso cuidar, sem dúvidas, para que a contratação dos profissionais envolvidos seja feita com muito discernimento e responsabilidade.
I: Qual a sua projeção para os aluno que concluem o seu curso nesse semestre?
A: Que se façam boas sementes a germinar e que cada um produza bons frutos, multiplicando os dons que aqui compartilhamos “em trinta, sessenta ou até cem vezes mais do que foi plantado” (Mt 13, 8). Entendendo que o nosso Deus é o autor da beleza e que a Ele servimos com alegria, ao pensar espaços, recortes especiais de toda obra da Criação, para consagrar inteiramente à Sua Glória! Conhecendo o caminho que nos trouxe até aqui, de fé e espiritualidade, de estilos e formas de construir, possam esses alunos, ao auxiliar em qualquer obra de arquitetura sacra / religiosa, revelar o mistério da ação de Deus em nosso meio através das formas, cores e texturas do espaço celebrativo.
I: Que dica você daria para os profissionais na área de arquitetura que gostariam de adentrar nesse novo espaço?
A: A dica fundamental: arquitetura sacra e missão de mistagogia. Assumir que cada elemento, forma, cor e textura que projetar não pertença a um “eu individual”, mas a um Deus que é comunhão e que toca seu coração para servir a Ele, através do seu trabalho!
Francisco Renildo(@renildo_alves), 28, residente da cidade de São Paulo do Potengi/RN, é formado como Arquiteto e Urbanista pela Centro Universitário FACEX – UniFacex e aluno do segundo módulo de Arquitetura Sacra do ITESP. Católico praticante e membro de ações e atividades junto à sua paróquia de origem, escreveu seu trabalho de conclusão de curso nessa área da liturgia. A formação cristã-católica junto à graduação em arquitetura desenvolveu nesse profissional a paixão pela área litúrgica e desde então tem se dedicado aos estudos. O Instituto entrevistou o aluno para entender quais foram as suas motivações em iniciar o curso de extensão e saber qual o impacto dessa formação na sua área de atuação. Seguem a entrevista:
ITESP: Qual foi a motivação que a/o fez iniciar o curso de Arquitetura Sacra?
Francisco: Primeiramente, sempre fui católico praticante, e amante de tudo que seja relacionado ao sagrado. E quando me tornei arquiteto, o amor pela arquitetura sacra só aumentou. Tanto é que o meu TCC foi nessa área. Então quando eu soube da extensão, através de um amigo que me enviou o post do Instagram, prontamente fiz a minha matrícula.
I: Esse curso impacta de alguma forma na sua profissão ou na vivência dentro da Igreja? Como?
F: Sim, impacta muito. Antes do curso, eu já havia feito dois projetos sacros: um de fachada de uma capela, e outro de interior de uma igreja matriz. E percebi durante o curso, que algumas coisas poderiam ser mudadas, já que hoje eu tenho esse conhecimento a mais. Por sinal, estou prestes a fazer um projeto do zero, de uma igreja dentro de um convento, e certamente irei aplicar o que aprendi, e venho aprendendo no curso.
I: O que você deseja concluindo o curso de Arquitetura Sacra?
F: Desejo ter sanado algumas dúvidas que ainda tenho sobre esse assunto, e assim, aplicar esse conhecimento na prática, por meio dos projetos que surgirão. Também desejo promover esse conhecimento para que mais pessoas, mesmo que não sejam da área da arquitetura, possam compreender a beleza e os significados do espaço celebrativo.
I: Com essa formação, como você pode contribuir no espaço sacro/litúrgico que participa ou trabalha?
F: Através das aulas, já pude perceber algumas coisas que podem ser ajustadas aqui na minha paróquia, e já conversei com o padre. Assim como já fui consultado por outros padres e seminaristas, que desejam fazer adequações em suas paróquias.
Neste ano de 2023, quando o Instituto abriu duas turmas para o curso de extensão em Arquitetura Sacra (Módulo I e II), o aluno Bruno Trindade Ferreira, 24, residente em Teresina/PI e formado em Engenharia Civil pela UNIFACID-Wyden, decidiu encarar os dois módulos ao mesmo tempo. Nós o entrevistamos para saber mais das suas motivações para o curso de extensão:
ITESP: Bruno, esse curso de extensão impacta de alguma forma na sua profissão ou na vivência dentro da Igreja? Como?
Bruno: Sim, com essa formação, acrescenta ao meu currículo a capacitação como projetista Sacro, terei uma certa autoridade para e conhecimento para dialogar e defender a sacralidade da Igreja, bem como ter esse certo reconhecimento, me permitirá conseguir mais projetos nessa área.
I: Com essa formação, como você pode contribuir no espaço sacro/litúrgico que participa ou trabalha?
B: Tenho o conhecimento sobre os estilos arquitetônicos, sobre a disposição dos elementos e espaços, teria uma melhor noção e argumentos para dialogar com os sacerdotes e pouco a pouco sugerir e fazer modificações necessárias pelo bem da sacralidade da Igreja.
Cristina Oliveira (@_studiescris), 19, estudante do 2º período de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina/PR, é uma das mais novas (senão a mais nova) a cursar os dois módulos da extensão em Arquitetura Sacra. Decidida, já está certa de que a área litúrgica de Arquitetura Sacra é seu caminho e vocação e pretende levar essa discussão para a sua graduação. O Instituto também entrevistou a aluna para saber quais são seus reais objetivos com a conclusão do curso e entender essa motivação. Leia:
ITESP: Cristina, qual foi a motivação que a/o fez iniciar a Arquitetura Sacra?
Cristina: Entrei na faculdade já com a intenção de me especializar em Arquitetura Sacra e Espaço Litúrgico, como na universidade que estudo não há ensino nem pesquisa na área, estava em busca de algum curso que pudesse me dar uma direção sobre esse tipo de arquitetura.
I: Esse curso impacta de alguma forma na sua profissão ou na vivência dentro da Igreja?
C: O curso é a base da área que desejo me especializar no futuro, ele é o pontapé inicial da minha realização profissional. Já na vivência da Igreja está sendo muito importante pois estou aprendendo a amar ainda mais minha fé por meio da liturgia, afinal só amamos aquilo que conhecemos.
I: O que você deseja concluindo o curso de Arquitetura Sacra?
C: Ter uma base sólida para iniciar meus estudos em arquitetura sacra e propor projetos de pesquisas – dentro da minha instituição – sobre o assunto!
O Instituto São Paulo de Estudos Superiores – ITESP promoveu no segundo semestre de 2022 o primeiro módulo de Arquitetura Sacra com mais de 60 inscritos e matriculados. Alunos espalhados no Brasil e pelo mundo puderam participar das aulas online junto ao Prof. Esp. Almir José Neto, que é natural da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ. Nesse ano de 2023 seguimos com o segundo módulo e abrimos também uma nova turma que se forma em junho.
Pensar a construção, reforma, restauração ou adequação litúrgica de um espaço sacro é sempre um desafio econômico, pastoral e comunitário. Ter base para nortear as decisões, lidar com os diversos agentes e profissionais envolvidos, definir conceitos a serem aplicados e partidos arquitetônicos a serem seguidos pode ser a chave para o sucesso de uma boa e verdadeira obra de Igreja. É isso que este curso se propõe: visando contribuir na formação daqueles que se interessam pela área de Arquitetura Sacra, o aluno encontrará aqui as diretrizes bases para idealizar e planejar obras de espaços litúrgicos com qualidade de evolução, efetividade de construção e profundidade conceitual.