A Comunicação na escolha de um novo Papa: entre responsabilidade, fé e alcance global

A Comunicação na escolha de um novo Papa: entre responsabilidade, fé e alcance global
Reprodução IHU

A sucessão de um Papa é sempre um momento que transcende os limites da Igreja Católica. Mais do que uma eleição interna, trata-se de um evento com impacto espiritual, político e social, que mobiliza bilhões de fiéis e espectadores ao redor do mundo. Nesse contexto, a Comunicação ocupa um papel decisivo — não apenas na transmissão da notícia, mas na forma como ela é compreendida, sentida e acolhida pelo povo de Deus e pela sociedade global.

Em entrevista concedida ao Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), a Prof.a Dra. Helena Corazza, religiosa paulina e referência na área da Comunicação Eclesial, destacou a magnitude desse momento. Para ela, a eleição de um novo pontífice é, por natureza, um evento midiático global. Isso se dá tanto pelo peso simbólico e espiritual da figura papal quanto pelo seu papel como chefe de Estado do Vaticano. “As conexões midiáticas permitem que a eleição seja acompanhada em tempo real, o que exige uma comunicação pautada na ética, na verdade e que gere comunhão”, afirma.

Vivendo em tempos marcados por polarizações ideológicas, fake news e disputas por narrativas, o cuidado com a informação torna-se ainda mais urgente. Prof.a Helena alerta para os perigos das especulações infundadas, que podem comprometer não apenas a imagem dos cardeais envolvidos no conclave, mas também a credibilidade da própria Igreja. “Há muitos desafios, sobretudo o cuidado para não cair em armadilhas comunicativas. Precisamos verificar as fontes e comunicar com responsabilidade”, sublinha.

Acompanhe a entrevista completa:

ITESP: Prof.a Helena, na perspectiva da Comunicação, como a eleição de um novo Papa se transforma em um evento midiático global e quais são os desafios de comunicar esse momento com responsabilidade e profundidade?

Helena: A eleição de um Papa é um evento global por si mesmo pela importância do Papa como supremo pastor da Igreja Católica, pelo seu significado de guia espiritual para o mundo, e por ser um chefe de Estado, seu peso simbólico é muito grande. E as conexões midiáticas possibilitam a comunicação em tempo real. Como sabemos, há muitas especulações, tentativas de manchar a imagem dos cardeais, neste tempo de extremismos e grupos tendenciosos. Há muitos desafios, sobretudo o cuidado para não cair nessas armadilhas, verificar as fontes e produzir uma comunicação segundo os critérios éticos, da verdade e que gere comunhão e sentimentos de pertença.

ITESP: Como a figura do novo Papa, em seus primeiros gestos e discursos, influencia a percepção da Igreja no cenário internacional e entre os fiéis?

Helena: Nós vivemos uma experiência muito forte de comunicação com a pessoa do Papa Francisco que, de fato, tinha uma palavra encarnada, carregada de gestos, imagens, proximidade. Nossa tendência é comparar. Mas, seja quem for, sabemos que a pessoa é comunicação, portanto, a forma como o novo Papa aparecer, seus gestos, suas primeiras palavras, sem dúvida alguma serão lidos e interpretados e não tem como fugir disso. Por outro lado, as primeiras impressões podem configurar também uma comunicação epidérmica, superficial e cabe a nós conhecermos mais profundamente as propostas, sabendo que o Magistério da Igreja, independente de quem esteja à frente tem continuidade. E todos esperamos que o novo Papa possa continuar nesse diálogo com o mundo tão necessário em tempos globais e de polarização. Espera-se também que ele leve adiante o Concílio Vaticano II e a Sinodalidade.

ITESP: De que forma os meios de comunicação católicos e seculares podem colaborar — ou comprometer — a compreensão do perfil e da missão do novo pontífice?

Helena: Os princípios éticos do jornalismo é comunicar a verdade ou a veracidade dos fatos. Sabemos das diferentes filosofias e interesses comerciais, econômicos, políticos da mídia secular. Nas mídias católicas convivemos com diferentes modelos de Igreja. A missão do Sumo Pontífice é de união e de comunhão, por isso, mais uma vez, não podemos nos ater a comparações de personalidade e modos de comunicar, por mais que sejam fundamentais. Deveríamos ir mais a fundo e comunicar a essência da vida cristã, da catolicidade, do compromisso fé e vida de tudo o que une e das grandes questões para a humanidade. A comunicação do Vaticano está muito bem organizada e integrada, com pessoas qualificadas que, com certeza, vão trabalhar a imagem do Papa, vão assessorar, como é normal com todas as lideranças para que sua comunicação seja eficaz e chegue ao coração das pessoas do mundo contemporâneo. É claro que todos esperamos dele proximidade!

Nesse cenário, os meios de comunicação, tanto católicos quanto seculares, exercem um poder imenso: podem ajudar a aproximar o novo pontífice das pessoas, ou criar ruídos, comparações injustas e leituras rasas. A experiência com o Papa Francisco mostrou como uma comunicação simples, próxima e gestual pode tocar os corações de crentes e não crentes. O desafio, agora, é que o próximo Papa, independente de seu estilo, continue o caminho de diálogo com o mundo moderno, leve adiante os frutos do Concílio Vaticano II e promova a sinodalidade — essa escuta mútua tão necessária em tempos de ruptura.

No horizonte da sucessão papal, a Comunicação se revela não como um detalhe, mas como um instrumento essencial da evangelização. Cabe aos comunicadores — dentro e fora da Igreja — acolher esse momento com reverência, cuidado e profundidade, ajudando o mundo a compreender, mais do que a notícia, o seu verdadeiro significado.

Por: Arison Lopes, Comunicação ITESP.

Foto: Reprodução IHU