Campanha da fraternidade 2025: o tempo de agir é agora!

A Campanha da Fraternidade (CF) tem sua origem na década de 1960, um período de grandes mudanças. Desde sua primeira edição, em 1962, até os dias de hoje, a CF tem sido uma ampla ação de evangelização, realizada durante o tempo da Quaresma pela Igreja no Brasil. Ao longo dos anos, a Campanha tem incentivado cristãos e pessoas de boa vontade a viverem uma espiritualidade encarnada, encontrando, na realidade concreta, sentido para sua vida e caminhada de fé. Nesse contexto, a CF nasce como uma expressão da solidariedade da Igreja em favor da dignidade da pessoa humana.
Em 2025, a Campanha da Fraternidade nos convida a refletir sobre um dos temas mais desafiadores da atualidade: Fraternidade e Ecologia Integral. As questões ambientais tornaram-se emergenciais. O tempo de agir é agora! A esperança, celebrada por toda a Igreja no Jubileu de 2025, renova nossa atitude de compromisso e resistência, impulsionando-nos ao cuidado integral da Casa Comum e das pessoas.
A CF 2025 traz à tona a relação entre a economia e o meio ambiente, questionando as implicações do modelo econômico vigente. O antigo pensamento de Protágoras – “o homem é a medida de todas as coisas” – já não se sustenta diante da realidade atual. O Papa Francisco nos recorda que “a realidade é superior à ideia”. E essa realidade é alarmante: um relatório publicado em janeiro de 2025 pelo Institute and Faculty of Actuaries (IFoA) da Universidade de Exeter (Reino Unido) apresenta dados preocupantes sobre as mudanças climáticas e seus impactos sociais e econômicos. Segundo o estudo, se a temperatura global atingir 3°C acima dos níveis pré-industriais, a mortalidade humana poderá chegar à metade da população mundial, devido a fatores como fome, seca, doenças infecciosas, desastres naturais e conflitos. O ecocídio iminente, resultado da superexploração dos recursos naturais em nome do progresso e do desenvolvimento, ameaça extinguir da face da Terra a mais bela criação de Deus: o ser humano (Gn 1, 31).
Diante desse cenário, a Fraternidade e Ecologia Integral nos convoca a ampliar nosso compromisso com a defesa da criação. No Brasil e no mundo, importantes ações de transformação já estão em curso, como: A COP30, em Belém (PA), a primeira conferência climática da ONU realizada na Amazônia; A celebração dos 10 anos da Laudato Si’ e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM); Os 800 anos do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, patrono da ecologia e defensor da Casa Comum; E, claro, a própria Campanha da Fraternidade 2025.
Tudo está interligado! E, nesse espírito de compromisso, vale destacar um trecho do texto-base da CF 2025:
“A origem da crise socioambiental no mundo e no Brasil é complexa e multifacetada, envolvendo fatores históricos, sociais, econômicos e políticos. O modelo de desenvolvimento capitalista, baseado na exploração dos recursos naturais, na queima de combustíveis fósseis, na expansão desenfreada do consumo e na relação mercantilista com a natureza, tem causado uma série de impactos ambientais, como a degradação do solo, o desmatamento, o extrativismo predatório, a poluição, a escassez de água, a perda da biodiversidade e as mudanças climáticas. Nunca antes estivemos diante de uma situação tão crítica. Não se trata apenas de uma crise socioambiental, mas de um colapso profundo das estruturas do planeta e das governanças globais. A irreversibilidade desse processo coloca em risco a própria vida na Terra, nossa Casa Comum” (Moema Miranda, 10 de janeiro de 2021, 34º Curso de Verão CESEEP: Cuidar da Casa Comum, por uma cidade sustentável).
A Campanha da Fraternidade 2025 desperta em nós um cuidado afetuoso pelo planeta. A generosidade da Terra nos ensina a sermos generosos com toda a criação, da qual fazemos parte. A realidade que enfrentamos exige de nós uma conversão ecológica, uma mudança de mentalidade e atitude. O Papa Francisco, em sua incansável luta humanitária e ecológica, expressa em suas Cartas Encíclicas e exortações apostólicas um convite a enxergarmos a realidade “a partir de baixo”, com os pés fincados no chão da história, atentos aos dramas concretos da humanidade.
Uma verdadeira conversão ecológica exige comprometimento e superação dos comodismos e egoísmos. No entanto, se trabalharmos juntos, como irmãos e irmãs, poderemos realizar ações concretas e propor alternativas que promovam vida, e não destruição.
Finalizo esta reflexão com as palavras de Rubem Alves:
“Hoje não há razões para otimismo; hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto de otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração” (ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008).
O tempo de agir é agora!
Por: Jônata Schneider de Andrade – aluno quarto ano de teologia
Referências
ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.
BÍBLIA DE JERUSALÉM, nova edição, revista e ampliada. Paulus, 1ª ed. 2002, 10ª reimpressão, 2015.
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Campanha da Fraternidade 2025: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2024.
FRANCISCO, Papa. Laudato Si’: carta encíclica sobre o cuidado da casa comum. 2ª ed. Paulus, 2019.
___________. Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 1ª ed. Paulus, 2019.
___________, Papa. Laudate Deum: exortação apostólica sobre a crise climática. 1ª ed. Paulus, 2023.
___________, Papa. Spes non confundit: bula de proclamação do jubileu ordinário do ano 2025. 1ª ed. Paulus, 2024