Carlo Acutis e a santidade na era digital: um exemplo para a juventude

Carlo Acutis e a santidade na era digital: um exemplo para a juventude
Imagem: Reprodução | Pinterest

Vivemos tempos em que a internet se tornou um ambiente essencial para a formação de identidade dos jovens, moldando suas relações, seus interesses e até sua espiritualidade. Diante desse cenário, a canonização de Carlo Acutis surge como um marco significativo, não apenas para a Igreja, mas para toda uma geração que busca sentido e propósito em um mundo digitalizado. Pais, educadores, pastorais e instituições como o ITESP têm um papel fundamental nesse processo, ajudando os jovens a encarar o ambiente virtual como um espaço não só de entretenimento, mas também de evangelização e construção de valores.

Carlo Acutis nasceu em 1991, na Itália, e faleceu precocemente aos 15 anos, em 2006, vítima de leucemia. Apesar de sua breve vida, deixou um legado que ultrapassa gerações. Apaixonado pela tecnologia e profundamente devoto da Eucaristia, criou um site para catalogar milagres eucarísticos ao redor do mundo, tornando-se um verdadeiro missionário digital. Sua fé simples e autêntica, aliada ao uso consciente da internet, fez com que fosse beatificado pelo Papa Francisco em 2020. Agora, sua canonização representa um reconhecimento oficial de sua santidade e do impacto positivo que sua história pode ter na juventude atual.

A canonização de Carlo reforça que a santidade não é algo distante ou inalcançável. Essa visão abre caminhos para que os jovens enxerguem o digital como um campo fértil para a evangelização, utilizando redes sociais, blogs e outras plataformas para compartilhar valores cristãos e testemunhar sua fé.

Esse entendimento se torna ainda mais relevante quando observamos os desafios da juventude atual. Dados recentes apontam que o engajamento religioso entre os jovens tem diminuído, enquanto o tempo de exposição às telas aumenta consideravelmente. No entanto, isso não significa necessariamente um afastamento da fé, mas uma necessidade de adaptação nas formas de transmissão da mensagem cristã. A Igreja tem respondido a esse desafio por meio de iniciativas como os Missionários Digitais, um grupo de jovens que evangelizam no ambiente virtual, trazendo um novo dinamismo à comunicação pastoral.

Um dos grandes atrativos da história de Carlo Acutis para os jovens é sua proximidade com a realidade contemporânea. Ele jogava videogames, navegava na internet e tinha hobbies como qualquer adolescente, mas também cultivava uma profunda intimidade com Deus.

Ao mesmo tempo, a canonização de Carlo serve como um chamado à reflexão sobre a forma como os jovens utilizam a internet. Em um ambiente muitas vezes marcado por polarizações, discursos de ódio e desinformação, a teologia pode oferecer ferramentas para um uso mais consciente e responsável das redes sociais. A evangelização digital, longe de ser apenas uma tendência passageira, precisa ser encarada com seriedade e propósito. Acompanhe, na íntegra, a entrevista com Guilherme de Freitas, Coordenador de Comunicação da Rede Inaciana de Juventudes, MAGIS Brasil:

ITESP: Guilherme, a canonização de Carlo Acutis representa um marco importante para a Igreja, especialmente para a juventude que vive em um mundo digitalizado. Você acredita que a figura de Carlo pode inspirar os jovens a enxergarem a internet não apenas como um espaço de entretenimento, mas também como um ambiente de evangelização e encontro com Deus?

Guilherme: Sem sombra de dúvidas, a canonização de Carlo Acutis representa um momento significativo para a Igreja, especialmente para as juventudes que vivem imersas no ambiente digital. Carlo compreendeu que a internet não era apenas um espaço de entretenimento, mas também um território de missão, e ele usou as redes e os recursos tecnológicos que possuía para anunciar a Boa Nova. Acredito que esse seja um dos pontos que mais podem servir de referência para os jovens, ajudando-os a enxergar que, também no ambiente digital, é possível não só fazer uma experiência de Deus, mas também se tornar verdadeiros anunciadores do Evangelho nesse novo continente. A vida deste jovem nos ensina que a santidade não está distante do nosso cotidiano, mas pode ser vivida em cada clique, cada compartilhamento e cada interação.

ITESP: Atualmente, vemos um afastamento significativo dos jovens das igrejas e movimentos religiosos. De que maneira a canonização de um jovem tão conectado ao universo digital pode resgatar o interesse da juventude pela fé? Como os movimentos juvenis, como o MAGIS Brasil, podem se apropriar dessa figura para dialogar melhor com os jovens e promover uma espiritualidade mais próxima da realidade deles?

Guilherme: O distanciamento dos jovens das igrejas e movimentos religiosos é um desafio real, mas é preciso também lançar um olhar mais amplo sobre essa realidade. A canonização de Carlo pode nos ajudar a perceber que a santidade na juventude é possível. Estamos falando de um jovem que viveu no nosso século, alguém que experimentou a realidade do mundo atual e que, em breve, será proclamado santo. Se soubermos ler a ação de Deus na vida desse jovem, conseguiremos perceber que já existem muitos outros jovens comprometidos com a evangelização no ambiente digital. No entanto, é preciso articulação. Hoje, a Igreja no Brasil tem se preocupado em fazer essa articulação acontecer. Existem jovens, de diversas partes do país, que participam de um grupo responsável por esse trabalho de evangelização digital, tanto no Brasil quanto no mundo: os Missionários Digitais. O MAGIS Brasil tem uma representatividade dentro desse grupo, pois as redes, grupos e movimentos juvenis da Igreja precisam tratar desse tema com seriedade. Carlo, ao criar seu site sobre os milagres eucarísticos, formou uma rede de devotos. Da mesma forma, nós, como acompanhadores de jovens, precisamos dar espaço e voz àqueles que habitam o continente digital, reconhecendo suas potencialidades e oferecendo suporte, para que não estejam sozinhos nessa missão.

ITESP: A internet tem sido palco de discussões polarizadas, discursos de ódio e desinformação, ao mesmo tempo em que se apresenta como um espaço para evangelização e troca de valores positivos. Como a teologia pode ajudar os jovens a discernirem melhor o que consomem e compartilham nas redes sociais? Existe um caminho pastoral para formar juventudes digitais que saibam viver sua fé de maneira autêntica sem cair em armadilhas virtuais?

Guilherme: Discernimento é um dom e precisa ser cultivado! Acredito que a teologia seja um farol que pode nos guiar não apenas nos ambientes digitais, mas em toda a nossa peregrinação nesta terra. Ela ilumina e nos ajuda a compreender o que nos aproxima de Deus e o que nos afasta Dele. O grande desafio, a meu ver, está justamente na articulação da presença da Igreja nos ambientes digitais. Não podemos pensar que precisamos começar do zero na evangelização digital. Ela já acontece! Deus já habita esse espaço! Mas, assim como ocorreu com as primeiras comunidades cristãs, é necessário unir forças, construir um caminho conjunto, com um objetivo claro, para evitar qualquer tipo de manipulação do Sagrado em benefício próprio de indivíduos ou grupos. Como mencionei anteriormente, a Igreja tem se movimentado nessa direção por meio dos Missionários Digitais. Esse grupo precisa ganhar ainda mais visibilidade e força, com maior envolvimento e engajamento. Estamos falando de uma mudança de mentalidade: sair da mera “digitalização da pastoral” — onde a internet é usada apenas como um mural de avisos ou para postar fotos — para assumirmos uma postura de verdadeiros missionários digitais, levando a experiência de Deus ao coração desse novo ambiente (que já nem é mais tão novo).

ITESP: Você vê esse evento como uma oportunidade para fortalecer a identidade cristã dos jovens e incentivá-los a usar a internet de forma mais consciente e missionária?

Guilherme: Quando falamos sobre Carlo Acutis, é essencial considerar toda a sua história e trajetória, pois é isso que nos impulsiona a querer também escrever a nossa própria história. O jovem Carlo nos provoca a não nos tornarmos apenas “fotocópias”, mas a assumirmos verdadeiramente a nossa identidade e vocação neste mundo, sendo autênticos naquilo que Deus nos confia. Muitos jovens hoje dedicam suas vidas a “viver da internet” e, para alcançar maior engajamento, acabam tentando de tudo. O testemunho de Carlo nos mostra que o que realmente marcou sua vida foi a construção de uma intimidade profunda com Jesus na Eucaristia — devoção que se aprofundou quando teve contato com os jesuítas em uma das escolas onde estudou. Sua união com Jesus e seu amor pela tecnologia, quando combinados, tornaram-se sua maior ferramenta de evangelização. Seguir esse mesmo caminho pode ser o que nos aproxima verdadeiramente do céu: unir-nos a Jesus, colocar nossa vida e nossos dons a serviço do Evangelho, considerando que a internet também é um espaço de anúncio do Reino.

No contexto acadêmico, instituições como o ITESP podem contribuir significativamente para essa nova evangelização. O estudo da teologia não apenas fornece conhecimento sobre a fé, mas também ensina o discernimento necessário para navegar no mundo digital sem cair em armadilhas.

A canonização de Carlo Acutis não é apenas um reconhecimento de sua santidade, mas um convite à juventude para viver sua fé com autenticidade, dentro e fora do mundo digital. Como ele mesmo dizia, “Todos nascem como originais, mas muitos morrem como fotocópias”. Seu exemplo nos motiva a buscar nossa própria identidade cristã, utilizando nossos dons e talentos a serviço do Evangelho, inclusive na internet.

Diante dessa realidade, cabe a nós — sejam pais, educadores, líderes pastorais ou estudantes de teologia — ajudar a construir esse caminho, promovendo um ambiente digital mais saudável, evangelizador e transformador. Carlo Acutis mostrou que isso é possível. Agora, é nossa vez de continuar essa missão.

Por: Arison Lopes, Comunicação ITESP.

Imagem: Reprodução | Comunicação ITESP.