Entrevista: O impacto do PL 2630/20 da Fake News

imagem: igrejamaristela.com.br

Ainda corre em trânsito pela Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2630/20 que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O texto cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais, como facebook e twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como whatsapp e telegram, excluindo serviços de uso corporativo e e-mail (câmara.leg.br)

O ITESP entrevista a Prof.a Dra. Helena Corazza, que ministra a disciplina de Comunicação para os alunos do 1º ano de Teologia, para entender quais são os impactos desse Projeto de Lei na Comunicação em meios religiosos e como ela será necessária para a sociedade como um todo. Entenda conosco o posicionamento da Igreja para com o PL que vai ao encontro do combate às Notícias Falsas (popularmente ditas como Fake News).

ITESP – Enquanto Instituição religiosa o que devemos esperar da Lei 2630/20 se sancionada?

Helena Corazza – Acredito que vai de encontro com os valores que acreditamos e ensinamos como a verdade, os princípios éticos, o compromisso com uma sociedade fraterna, justa e solidária. E, acima de tudo, a nossa missão de povoar o continente digital com a mensagem do Evangelho e da solidariedade, do respeito, da inclusão.

I – Como profissional de Comunicação, consegue ver algum impacto nos meios e como isso influenciaria na vida digital e pessoal dos usuários?

HC – As pessoas estão saturadas de informações e já não conseguem distinguir, tantas vezes o que é verdadeiro do que é falso. Haverá menos intoxicação de notícias falsas e será uma forma de ir educando os internautas e usuários, com práticas de uma informação/comunicação mais transparente de construtiva à qual eles têm direito como cidadãos. A alegação de que fere a liberdade de imprensa e de expressão, é preciso ser mais objetivada, pois os jornalistas muito bem sabem dos princípios éticos que regem a sua profissão.

I – Há uma resistência por parte de políticos religiosos em sancionar a PL 2630/20 e isso tem travado o projeto na câmara, desde então muitas suposições errôneas e falsas notícias tem circulado nas redes sociais. Como Instituição Religiosa, quais são os meios que podemos usar para combater a desinformação?

HC – É preciso distinguir quais grupos políticos religiosos estão dificultando e que interesses se escondem atrás da religião ou na instrumentalização da religião. O Papa Francisco, na Mensagem para o 57º. Dia Mundial das comunicações, deste ano, adverte: “Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação ‘de coração e braços abertos’ não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um”. E pede para “desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz […]. Hoje é tão necessário falar com o coração para promover uma cultura de paz, onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação, onde campeiam o ódio e a inimizade”, diz Francisco.  

Uma das formas para combater a desinformação é se posicionar como fizeram diversas associações católicas como a Signis Brasil, o Observatório de Comunicação Religiosa (OCR), entre outras.  Uma das afirmações: “O PL também não atenta contra a liberdade religiosa. Há grupos afirmando, de maneira inverídica, que se quer, com a aprovação desta lei, cercear a liberdade religiosa das igrejas. Essa estratégia dos grupos extremistas visa apenas a confundir o debate e a propagar o medo, uma vez que a liberdade religiosa é garantida pela Constituição Federal (artigo 5º, inciso VIII), e isso não será alterado. Afirmamos que a fé não deve ser usada como ferramenta de manipulação”.

Confira. https://signis.org.br/2023/05/10/entidades-da-igreja-catolica-divulgam-carta-em-defesa-do-projeto-de-lei-das-fake-news/

Além do mais, manter-nos alertas e críticos, dando razões à nossa fé não simplesmente inço com a maré. O Evangelho e a prática de Jesus caminham na “contramão” de projetos que tem o mercado no centro e não o ser humano e sua dignidade.

I – Como a PASCOM (setor responsável pela comunicação nas Igrejas) pode lidar com as Notícias Falsas? Há algum tipo de preparo que as Instituições precisam ter? Como se prevenir?

HC – A Igreja orientou e orienta uma comunicação que tenha em conta a educação cristã, que os pais eduquem seus filhos e acompanhem em relação às ofertas das mídias, sobretudo em relação às crianças e aos jovens. A comunicação na Igreja trabalhou e trabalha a educação para a comunicação, o senso crítico e isso continua. O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, tem um capítulo dedicado à educação para a comunicação. Mas precisamos avançar, capilarizar a discussão da mídia em todas as pastorais, na catequese, nas formações em geral, pois precisamos partir da cultura assimilada pelas crianças, jovens e adultos, cotidianamente. É preciso partir do mundo em que as pessoas vivem e do que alimenta seu imaginário, de modo geral, os produtos das mídias trazem violência, discriminação e não amor ao próximo, como a Igreja ensina. 

I – É viável que essas discussões sejam levantadas em teor e ambientes religiosos?

HC – É necessário que essas discussões façam parte do cotidiano e em todos os ambientes.

Texto: Arison Lopes, Comunicação Institucional ITESP

Imagem: igrejamaristela.com.br

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