Francisco e Leão: do Carisma à Cátedra

Francisco e Leão: do Carisma à Cátedra
Eugène Burnand

A fumaça branca anunciou ao mundo que o rebanho confiado por Cristo aos cuidados de Pedro tem agora um novo pastor. Robert Francis Prevost, agostiniano nascido nos Estados Unidos e missionário no Peru, era bispo da pequena diocese de Chiclayo até ser chamado por Francisco para colaborar na Cúria Romana junto ao Dicastério dos Bispos. Sua eleição no quarto escrutínio confirma que o Espírito Santo age como quer e quando quer, sempre promovendo a unidade do Corpo Místico de Cristo. De fato, alcançar dois terços dos votos entre 133 cardeais, oriundos de diferentes partes do mundo, é sinal eloquente de comunhão.

Naturalmente, surge a pergunta: o que esperar do novo pontificado? É cedo, obviamente, para qualquer análise mais aprofundada. No entanto, dois elementos chamam a atenção na apresentação do novo bispo de Roma: a escolha do nome e o conteúdo do seu primeiro discurso.

Prevost poderia ter escolhido qualquer nome, mas resgatou um que estava esquecido há mais de um século: Leão. De imediato, remete a Leão XIII, o pontífice da modernidade, que inaugurou a Doutrina Social da Igreja — o conjunto de ensinamentos magisteriais voltados aos temas da vida em sociedade e à promoção da dignidade humana — sendo também o primeiro a denunciar o acúmulo do capital à custa da opressão da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, o nome evoca Frei Leão, o companheiro fiel de São Francisco de Assis, símbolo de uma renovação espiritual marcada pela simplicidade, fraternidade e obediência ao Evangelho.

No primeiro discurso de Leão XIV, já se pode entrever a direção que deseja imprimir ao seu pontificado. Desde o início, ele deu continuidade à mensagem de Páscoa do Papa Francisco, que, em sua última aparição pública, “com voz fraca, mas corajosa”, denunciou o flagelo da guerra e convocou a humanidade a viver a paz. Essas foram as primeiras palavras de Leão XIV: “A paz esteja com todos vocês.” Ele destacou a paz de Cristo como desarmada e desarmante, convocando tanto os poderes políticos quanto os setores internos da Igreja a deporem as armas, cessarem os conflitos e se empenharem na construção de pontes para o diálogo, para que todos sejam um. Assim, além de pedir a paz para o mundo, pode-se entender também um pedido de paz para a Igreja, que enfrentou tantas tensões internas na última década. Aliás, vale retomar aqui o seu lema episcopal como desejo de unidade na diversidade: In illo uno unum (“Em Cristo, que é um, nós somos um”).

Na continuidade do discurso, que se desenha como uma introdução programática ao seu pontificado, Leão XIV retomou conceitos centrais do magistério de Francisco, reinterpretando-os com sua própria linguagem: a misericórdia de um Deus que ama a todos; a Igreja em saída, chamada a levar ao mundo a luz de Cristo; a cultura do encontro, que constrói pontes em vez de muros; a sinodalidade, como caminho comum de homens e mulheres que buscam a justiça e a paz; a Igreja samaritana, sensível aos caídos à beira do caminho; a acolhida incondicional de todos.

Como o pobrezinho de Assis encontrou em Frei Leão um fiel companheiro na reconstrução da Igreja, teremos, portanto, como sucessor de Pedro, um verdadeiro companheiro de Francisco nas reformas por ele iniciadas? Tudo indica que sim, embora com a autenticidade própria do novo pontífice. Ele não é um Francisco II: logo de início apareceu com a mozzetta vermelha e a cruz dourada que haviam sido dispensadas por seu predecessor. Mas isso é o de menos! Leão XIV, embora discretíssimo durante seu tempo na Cúria Romana, mostra-se progressista nos temas da ética social — como migração, ecologia e trabalho — e mais conservador quanto aos costumes. O que temos, portanto, é um pastor com identidade própria: alinhado ao espírito reformista de Francisco, mas também marcado por traços de diplomacia e conciliação.

Leão XIV concluiu seu discurso convidando-nos a não termos medo, a colocarmos nossas mãos nas mãos de Deus e a seguirmos a Cristo que nos precede, permanecendo fiéis à missão da Igreja. Que não lhe faltem coragem e profecia para enfrentar os desafios do tempo presente. E que nós, por nossa vez, permaneçamos unidos àquele que preside na caridade a Igreja universal.

Por: Pe. Lucas Raul de Faria, OSJ – Ex-aluno do ITESP.

Imagem: Eugène Burnand