Pastoral Carcerária da CNBB amplia atuação com curso sobre atendimento pastoral LGBTQIAPN+

Pastoral Carcerária da CNBB amplia atuação com curso sobre atendimento pastoral LGBTQIAPN+
Imagem: Reprodução FreePik

São Paulo – A Pastoral Carcerária, braço da CNBB, expande seu compromisso com a inclusão e respeito à diversidade ao participar do curso “A Igreja e o acompanhamento pastoral às pessoas LGBTQIAPN+”. Com a coordenação de Petra Silvia Pfaller, essa iniciativa visa aprimorar a abordagem pastoral junto aos detentos, especialmente jovens, negros e moradores de periferias.

O curso, promovido pelo ITESP, proporcionou uma reflexão profunda sobre a inclusão LGBTQIAPN+ no contexto carcerário, capacitando os agentes da Pastoral para uma atuação mais sensível e empática. Petra destaca a importância de novas metodologias de escuta, diálogo e evangelização, visando promover a dignidade e os direitos dessa população. A incorporação dessas práticas promete transformar as interações com os jovens infratores, tornando o ambiente mais acolhedor e respeitoso. A Pastoral Carcerária já planeja projetos específicos para lidar com a questão, incluindo ações para os anos de 2024 a 2026 voltadas para a população LGBTQIAPN+.

Apesar dos avanços, há desafios a serem enfrentados, como o preconceito dentro do sistema prisional e a falta de reconhecimento da diversidade religiosa. A Pastoral está comprometida em superá-los, aplicando as abordagens inclusivas no trabalho diário.

Espera-se que o conhecimento adquirido no curso promova mudanças significativas, tanto dentro quanto fora dos presídios, contribuindo para ambientes mais inclusivos e justos. A disseminação desses conhecimentos é fundamental para garantir a proteção dos direitos e a promoção da dignidade de todos os indivíduos.

Acompanhe a entrevista completa com a aluna Petra:

ITESP: Considerando a relevância do curso “A Igreja e o acompanhamento pastoral às pessoas LGBTQIAPN+”, como você percebe que os conhecimentos adquiridos podem ser aplicados de maneira eficaz no contexto do trabalho que desenvolvem com jovens menores infratores na Pastoral Carcerária Nacional da CNBB?

Petra: As atividades desenvolvidas pelas equipes da Pastoral, até então, são realizadas de maneira uniforme, ou seja, igual para todas, todes e todos que se encontram ali aprisionados. É um trabalho voltado para a evangelização, restauração e promoção da dignidade humana. O curso nos propiciou uma reflexão sobre esse público, seres humanos amados por Deus, despertando-nos para que, em nossas visitas religiosas, sejam empregadas novas metodologias para a escuta, o diálogo, a evangelização e a garantia de direitos e a promoção da dignidade da população LGBTQIAPN+, com o olhar sempre voltado para o desencarceramento.

ITESP: De que forma a compreensão aprofundada dessa temática pode contribuir para uma abordagem mais inclusiva e sensível nas atividades pastorais com esse público específico?

Petra: Ao aprofundarmos nossos conhecimentos adquirimos confiança, tornamo-nos mais corajosos, ousados, provocando-nos para que de fato direcionemos com exclusividade e inclusão o nosso agir, durante a visita para com a população LGBTQIAPN+, pois todo aprendizado deve ser aplicado para a promoção da dignidade humana.

ITESP: No decorrer do curso, foram abordadas diversas ferramentas e estratégias para um acompanhamento pastoral mais acolhedor e inclusivo às pessoas LGBTQIAPN+. Como você imagina que a incorporação dessas práticas pode impactar positivamente a interação com os jovens infratores, promovendo um ambiente mais empático e respeitoso?

Petra: O Curso “A Igreja e o acompanhamento pastoral às pessoas LGBTQIAPN+”, ministrado pela professora Maria Cristina Furtado, que traz consigo um grande conhecimento, sabedoria e experiências, apresentou-nos novas ferramentas e estratégias que nos ajudarão no planejamento diferenciado para atuarmos junto à população LGBTQIAPN+. O curso chegou em boa hora, as reflexões foram valiosíssimas e nos auxiliarão no planejamento de nossos trabalhos. Inclusive já estão presentes nos projetos da Pastoral, destaca-se, especialmente, nos trabalhos para a Questão da Mulher Presa para os anos 2024 a 2026: trabalhar sobre os conceitos e preconceitos sofridos pela população LGBTQIAN+ e seus direitos; a importância e necessidade da presença da instituição familiar nos cárceres como defensores dos direitos e o combate à tortura. É necessário, ainda, dizer que este curso foi só o primeiro, é preciso, ainda, mais aprofundamento.

ITESP: Quais desafios você antecipa?

Petra: Nós não antecipamos os desafios, eles já existem e necessitam de solução. Dentre eles citamos alguns: é um tema ignorado por muitos grupos religiosos, sendo que alguns deles tratam a questão como doença que precisa ser curada e para que aconteça a “CURA” usam a própria Bíblia para legitimar suas alegações, intensificando, assim, as torturas, exclusões e sofrimentos em geral; dentro do sistema prisional, alguns que ali trabalham, apresentam atitudes, preconceituosas, gerando exclusão à população LGBTQIAPN+; alguns Estados estão criando presídios específicos para as pessoas LGBTQIAPN+, mas não há uma avaliação sobre o positivo e negativo dessa modalidade, mas pode-se afirmar que isso dificulta as visitas familiares, considerando que são transferidos (as) para municípios distantes; Os agentes ao visitar são impedidos de uma aproximação dentro da proposta da Pastoral que é escutar, dialogar e promover a dignidade; fazer valer o direito que já estão estabelecidos em Lei: visita íntima, nome social, questões estéticas, convivência nos espaços a todos destinados.

ITESP: Como planeja superá-los ao aplicar essas abordagens no seu trabalho diário?

Petra: Além do que consiste no projeto para 2024 a 2026, da questão da mulher presa, temos também outros projetos desenvolvidos pela Pastoral Carcerária, os quais acreditamos que ajudarão a superar muitos destes desafios, mas temos consciência que ainda é preciso avançar muito, junto ao sistema carcerário, para garantir todo respeito e dignidade às pessoas privadas de liberdade, principalmente a este público específico que tanto merece. 

ITESP: Diante do aprendizado adquirido no curso, como você enxerga a possibilidade de contribuir para uma transformação mais ampla dentro do sistema prisional e da sociedade em geral?

Petra: Acreditamos que com nossos projetos ajudaremos no cumprimento e na garantia dos direitos presentes na Lei e contribuiremos para uma transformação mais ampla no sistema prisional e na sociedade em geral.

ITESP: De que maneira a disseminação desses conhecimentos pode influenciar positivamente a construção de ambientes mais inclusivos e justos para as pessoas LGBTQIAPN+ dentro e fora do contexto carcerário?

Petra: Uma das formas que utilizaremos para que esses conhecimentos influenciem na construção de ambientes mais inclusivos e justos são os encontros, de forma online, para os agentes da Pastoral e familiares a fim de formar e informar, denunciar e esclarecer sobre as medidas de proteção contra a violência e assédio sexual. Provocar a Igreja a buscar conhecimento através de formação tanto aos leigos e leigas como ao clero, a fim de que a Igreja conheça esta realidade de modo mais próximo.

ITESP: Quais são suas expectativas em relação à aplicação prática desse conhecimento para promover mudanças significativas?

Petra: O curso abriu horizontes, mostrou-nos que a diversidade deve ser reconhecida e trabalhada para que de fato a inclusão aconteça. Com a participação ativa no curso sobre atendimento pastoral LGBTQIAPN+, a Pastoral Carcerária reafirma seu compromisso com a inclusão e o respeito à diversidade. Essa iniciativa promete ampliar os horizontes da atuação pastoral, gerando impactos positivos na vida dos detentos e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Por: Arison Lopes, Comunicação Institucional ITESP

Imagem: Reprodução | FreePik

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