A realidade de pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade na costa de Tijuana, fronteira entre o México com os EUA, é conhecida e noticiada nas mídias nacionais e internacionais. Aqui no Sul da América conhecemos essa realidade através das notícias, mas também da problemática abordada na novela de Glória Peres, América, para o horário das 21h na TV Globo em 2005. Os episódios retratam as dificuldades e condições da personagem, vivida pela atriz Débora Secco, em tentar atravessar a barreira que divide os dois países, e, ao conseguir os dilemas que uma imigrante ilegal vivencia na terra do Tio Sam (personificação nacional dos Estados Unidos e um dos símbolos nacionais mais famosos do mundo). Além da teledramaturgia, o muro que separa as duas cidades e os dois países foi pauta da campanha de Donald Trump, republicanos, em 2016. Em seu mandato de quatro anos, o então presidente dos EUA, concluiu 60% da obra de divisão das fronteiras entre os países, segundo dados levantados pela revista Veja (Editora Abril) em 28 de outubro de 2020 (confira: https://veja.abril.com.br/mundo/governo-trump-concluiu-apenas-60-da-obra-do-muro-na-fronteira-com-mexico/).
Aproximadamente cerca de 1.130 quilômetros de parede, divididas em duas camadas – uma simples e outra alta – separam então duas sociedades que segregam socialmente as populações, mas não de forma econômica. São quilômetros de concreto e ferro que contradizem o “Tratado Norte-Americano de Livre Comércio” (NAFTA) assinado pelos países em 1994 (mesmo ano de construção do muro), um bloco econômico que tem a função de integrar países-membros num acordo comercial. O Canadá, por exemplo, no Norte, também faz parte desse tratado, mas não possui um muro separador.
A realidade que envolve esse muro vai além do imaginário. Uma guerra relativamente velada barra e aniquila pessoas de origem latina a buscarem oportunidades em um país desenvolvido tecnológico, social e economicamente. O Prof. Rodolfo Alves Pena (Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (2014), na linha de pesquisa “Território, Cultura e Representação”), em colaboração para o site da Escola Brasil*, estima que milhares de pessoas já foram barradas tentando atravessar esse muro quilométrico e outros milhares conseguiram, de forma ilegal, passarem por ele. A busca por essa travessia ilegal perpassa os limites da dignidade humana e a II Conferencia Internacional – Promover la vida en las fronteras, organizada pela Universidade Iberomericana de Tijuana e o Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM), reuniu profissionais do mundo, de diversas áreas do conhecimento, para trabalhar questões que envolvem a dignidade e os direitos dessas pessoas em situação vulnerável.
O Prof. Dr. Wellington Barros, docente do Instituto São Paulo de Estudos Superiores – ITESP, participou dessa conferência que aconteceu na cidade de Tijuana, no México, entre os dias 21 à 23 de março de 2023. In loco na Universidade Iberoamericana de Tijuana, grupos das diversas áreas de interesse e imigrantes se reuniram com o propósito de emergir discussões para estudos, reflexões e articulações internacionais, entre acadêmicos e agentes diretos da mobilidade humana.
“Um dos objetivos foi a busca pela união de esforços com as organizações da sociedade civil em vários níveis: nacional, regional e internacional. Objetivando a promoção e o protagonismo dos imigrantes e refugiados. Além da presença das Irmãs Scalabrinianas e colaboradores, estiveram presentes representantes de organizações da sociedade civil envolvidas com o tema e pesquisadores de diversas partes do mundo. As conferências e mesas de debate trouxeram temas partindo da realidade global das migrações em contexto de pandemia e guerra, e, posteriormente, nas realidades regionais”. Afirma Prof. Dr. Wellington Barros.
O evento aconteceu de forma presencial e remota, possibilitando que mais agentes e profissionais pudessem estar presentes nas discussões. Abaixo seguem informações, em espanhol, para que o leitor possa conhecer mais acerca da origem da conferência internacional.
Historia del evento
En diciembre de 2018 CSEM, con la colaboración de Weltkirche (Hauptabteilung Weltkirche der Diözese Rottenburg-Stuttgart – Alemania), la congregación de las Hermanas Misioneras de San Carlo Borromeo, Scalabrinianas – MSCS, con sede general en Roma, Italia y el Bienvenu Shelter (ONG de las Hermanas MSCS) en Johannesburgo, Sudáfrica, celebró una Conferencia en Johannesburgo con el tema “Reconstruir la vida en las fronteras: desafíos en la atención a migrantes y refugiados”. El evento impulsó el trabajo en red entre los participantes, destacó la relevancia de la participación de los migrantes y refugiados como sujetos activos en los debates sobre las cuestiones relacionadas con ellos, puso de relevancia la importancia del intercambio entre la reflexión académica y la práctica de la atención a las personas en situación de movilidad para la calidad y la eficacia de los objetivos que se plantean los respectivos actores y motivó la continuidad de colaboración y la profundización del debate entre los participantes con vistas a incidir en la búsqueda de respuestas eficaces a favor de la causa de la migración y el refugio.
* PENA, Rodolfo F. Alves. “Muro do México”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/muro-mexico.htm. Acesso em 04 de abril de 2023.
Escrito por: Árison Lopes – Assessor de Comunicação ITESP