Nossa esperança de ressureição

Nossa esperança de ressureição
Foto: Carlos Pádua

Aproxima-se um período significativo para a nossa vivência cristã, que chamamos com profunda devoção de Semana Santa. Esta designação, carregada de intenso significado, busca sublinhar a natureza distintiva desse tempo litúrgico, no qual os elementos litúrgicos e os frutos da piedade popular se manifestam de maneira especialmente expressiva e singular.

Os componentes litúrgicos da Semana Maior têm um impacto profundo, dado o seu estreito vínculo com a cultura cristã e com a religiosidade popular, cujos significados transcendem as fronteiras do culto e se entrelaçam com práticas culturais nas tradições locais. Para além de sua dimensão cultural, a grandeza deste período nos conduz ao ponto culminante de nossa experiência de fé: o Mistério Pascal. O Mistério de Cristo, que se concretizou historicamente em Nosso Senhor, se realiza simbolicamente em nós por meio de formas representativas, que não são meras aparências, mas transmitem a verdadeira realidade da nova vida oferecida por Cristo .

O ano litúrgico tem a Páscoa de Jesus como seu eixo central, em torno do qual todas as demais celebrações se organizam. A Páscoa é a fonte de toda fecundidade da Igreja. Assim, o mistério pascal é distinto, pois seu núcleo mais profundo — a autodoação e a obediência de Cristo até a morte na cruz — permanece vivo e atuante no Homem-Deus glorificado .

Deste modo, não seria uma divagação considerar toda essa conjectura como o espaço propício para a  efervescência da vida espiritual. Durante muito tempo, acreditou-se que tal experiência fosse um privilégio reservado a um grupo específico de pessoas. No entanto, a plena participação nesse mistério, nos dará um arcabouço para beber de tão admirável fonte. É fato que temos uma cultura vasta e afetiva do tempo, todavia, não podemos reduzi-lo a um grande espetáculo ou encenação. Precisamos reconhecer nos gestos e preces, ação salvífica que acontece no presente da história.

Pela ação do Espírito do Senhor, as práticas litúrgicas realizam efetivamente aquilo que significam. Elas não são apenas representações simbólicas, mas sinais de profunda transformação, e, portanto, devemos estar atentos a esse significado. Essas ações, além disso, não são pontuais, mas fazem parte de um processo comunitário e eclesial, a serviço da missão da Igreja no mundo e na sociedade.

Dentro da sensibilidade deste tempo, o espaço celebrativo é um dos maiores comunicadores, pela ornamentação ou sua ausência, pela luz e a treva, o caminhar e o repouso, silêncio e o irromper do Exulte.

Assim, imersos na dinâmica ritual característica deste período, somos novamente instigados a fazer a experiência da nova vida da Páscoa de Jesus, que é também a esperança da nossa ressurreição. Não podemos, portanto, abordar esse tempo litúrgico como uma repetição mecânica de um ciclo anual. A dinâmica espiral do ano litúrgico, ao invés de criar uma sensação de monotonia, proporciona uma oportunidade constante de renovar a experiência da ressurreição, permitindo que cada celebração se torne uma nova oportunidade de aprofundar a compreensão e a vivência do mistério central da fé cristã.

Por: Carlos Henrique Mota de Pádua, aluno do 4º ano de teologia.

Imagem e Foto: Carlos Pádua.