“Flow”: Uma reflexão sobre o cuidado com a Casa Comum

“Flow”: Uma reflexão sobre o cuidado com a Casa Comum
Imagem: Reprodução/Divulgação

“Flow” não remete à Disney nem aos desenhos da Warner. Trata-se de uma produção da Letônia, dirigida por Gints Zilbalodis, que apresenta um enredo reflexivo e preocupante, chamando a atenção para o cuidado com a casa comum diante da indiferença com a natureza.

O protagonista do filme é um gato preto, desconfiado e solitário, que tem sua casa destruída por uma inundação. Sem ter para onde correr, encontra outros animais que também se desesperam diante da enchente, como um cachorro, uma capivara, uma garça e um lêmure. Esses animais se abrigam em um barco e precisam aprender a conviver com suas inúmeras diferenças, enfatizando a dimensão comunitária da vida, as adversidades climáticas e a importância do cuidado mútuo para o bem comum.

Mesmo sem diálogos, a comunicação entre os personagens acontece por meio de expressões, gestos e olhares. O filme envolve o espectador com as aventuras dos animais, sua trilha sonora e as emoções que desperta. Sentimos tensão diante do desespero dos personagens com a inundação, queremos apartar as brigas entre eles, sentimos vontade de ajudá-los quando passam fome e nos emocionamos ao vê-los unidos, comemorando e brincando juntos. É na simplicidade que o filme transmite uma poderosa lição de moral.

Dessa forma, o enredo pode ser associado ao contexto bíblico da Arca de Noé, onde o dilúvio representa um tempo de enfrentamento, intensas chuvas e um novo recomeço. Assim como Noé reuniu os animais na arca para protegê-los do dilúvio (Gn 7,7-9), o filme retrata um grupo de animais que busca refúgio e sobrevivência em meio ao desastre, tendo o barco como suporte e esperança. No relato bíblico, Deus envia uma pomba com um ramo de oliveira (Gn 8,11), marcando o início de um novo tempo e uma nova oportunidade para a humanidade. No filme, a busca pela terra firme simboliza a esperança de renovação e a necessidade de maior consciência para o bem comum e o cuidado com a criação.

O Papa Francisco, em sua exortação apostólica Laudate Deum, reforça essa preocupação, afirmando que o nosso cuidado pelo outro e o nosso cuidado com a terra estão intimamente ligados. As alterações climáticas são um dos principais desafios que a sociedade e a comunidade global têm de enfrentar […] tanto a nível nacional como mundial.

Por isso, agora é o momento de nos preocuparmos e agirmos, de avançarmos no cuidado com a natureza — nosso bem comum — e de fortalecermos a convivência fraterna. Assim como os personagens do filme aprendem a superar desafios juntos, também somos chamados a agir pela preservação do meio ambiente e pela solidariedade entre os irmãos.

Por: Gustavo da Silva Santos (4º ano de teologia)

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