Inteligência Artificial e Arte: O caso Studio Ghibli e a batalha por direitos e identidade

Nas últimas semanas, uma nova tendência tomou conta das redes sociais: imagens geradas por Inteligência Artificial no estilo do Studio Ghibli inundaram plataformas como X (antigo Twitter) e Instagram. No entanto, a euforia com a tecnologia trouxe à tona debates fundamentais sobre direitos autorais, dignidade da arte e a identidade do artista.
O Studio Ghibli, fundado pelo cineasta japonês Hayao Miyazaki, sempre defendeu a arte desenhada à mão e a profundidade que cada traço carrega. Em 2016, Miyazaki deixou clara sua posição contra a arte gerada por IA classificando-a como um “insulto à própria vida”. O estúdio é conhecido por suas animações meticulosas, que levam anos para serem finalizadas, como o premiado “O Menino e a Garça”, lançado em 2023 após uma década de produção.
A popularização de imagens geradas pelo ChatGPT-4o imitando o estilo do Studio Ghibli sem a autorização do estúdio gerou indignação. O problema vai além da questão técnica: a transformação de uma identidade artística consolidada em uma ferramenta de memes e paródias, muitas vezes ligadas a eventos políticos e virais, compromete a essência e a intenção original do trabalho artístico.
Ao permitir que qualquer pessoa recrie imagens no estilo de um artista sem permissão, a IA desafia os limites dos direitos autorais e abre espaço para a exploração da arte como simples mercadoria. Obras que deveriam ser expressão da subjetividade de um criador passam a ser replicadas mecanicamente, ignorando o tempo, a dedicação e a intenção original por trás de cada traço.
O CEO da OpenAI, Sam Altman, ironizou a situação ao dizer que, após anos tentando desenvolver uma superinteligência para resolver problemas complexos como o câncer, foi a criação de imagens no estilo Ghibli que viralizou seu trabalho. A resposta reflete um desafio contemporâneo: o impacto da IA na arte não é apenas uma questão de avanço tecnológico, mas de respeito à criação humana.
A críticas de Miyazaki e de artistas ao redor do mundo reforçam a necessidade de regulamentação no uso da IA na produção artística. Sem mecanismos claros de proteção, artistas podem ter suas obras, estilos e marcas apropriados sem consentimento, afetando diretamente sua identidade criativa e seus direitos autorais.
A arte vai além do mercado: ela é expressão, história e identidade. Permitir que a IA avance sem critérios é colocar em risco a própria essência da criação humana. Cabe agora aos artistas, órgãos reguladores e à sociedade encontrar um equilíbrio que proteja a expressão artística sem impedir o progresso tecnológico. A pergunta que fica é: até onde a tecnologia pode ir sem comprometer a alma da arte?
Por: Arison Lopes, Comunicação ITESP.
Arte das Imagens: Virginie Morelli.